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FÓRUM DOS COORDENADORES DE CURSOS DE GEOLOGIA.


FÓRUM DOS CURSOS DE GEOLOGIA DO BRASIL
Posição do Fórum dos Coordenadores de Cursos de Geologia perante as atividades remotas

Diante da pandemia Covid-19, as aulas nas universidades foram suspensas em meados de março de 2020. Entre os 36 cursos de Geologia no Brasil, apenas 6 vêm realizando atividades remotas desde o início do isolamento.


Devido ao avanço da pandemia, que levou o isolamento para um tempo superior ao esperado inicialmente, alguns cursos estão se preparando para iniciar atividades remotas.
O cenário apontado, levou o Fórum de Coordenadores de Curso de Geologia a se reunir virtualmente em 05/06/2020.


O Fórum tomou a iniciativa de ter, além dos coordenadores do curso, um representante discente de cada, além da participação da Presidência da ENEGE, que representa todos estudantes de Geologia do Brasil.
A reunião contou com 52 participantes, entre docentes e estudantes, e teve início com apresentação de como se deram as atividades remotas dos seis cursos de Geologia, com a opinião dos estudantes a respeito das mesmas.


Um curso de Geologia só é eficiente se conduzido com aulas práticas com amostras e uso de equipamentos (lupas binoculares, microscópios, bússolas, entre outros) e aulas de campo que são associadas e complementam as atividades teóricas, as aulas práticas e de campo são obrigatórias nas diretrizes curriculares. Tais características implicam na impossibilidade do desenvolvimento do curso totalmente à distância.
Não existem formas que possibilitem que o estudante aprenda e entenda determinados conceitos geológicos sem as atividades práticas e – principalmente –o desenvolvimento do raciocínio geológico sem observação de afloramentos no campo e identificação das litologias e estruturas geológicas.


O motivo acima explica o fato de poucos cursos de Geologia terem optado pelas atividades remotas, já no início do isolamento. Pode-se afirmar, que muitos iniciaram dessa forma porém com o pensamento de que seriam apenas algumas semanas de isolamento e que logo poderiam retomar as atividades presenciais.


Face ao quadro atual de extensão do isolamento por alguns meses e diante da iminência de alguns cursos iniciarem atividades remotas, o Fórum destaca as seguintes premissas abaixo, que devem embasar qualquer decisão a respeito.


É impossível oferecer um curso de Geologia apenas com atividades remotas, dada a carga relativamente alta de atividades práticas e necessidade de aulas de campo.


O Fórum ressalta a importância de que qualquer atividade remota somente seja iniciada após garantido o acesso total e adequado às mesmas, ou seja, que todos estudantes tenham computadores, e não somente seus celulares, e internet com qualidade compatível, mesmo para os estudantes que se encontram em regiões remotas, devido a terem voltado para a residência de seus familiares.


Tem-se muita dificuldade em ministrar de forma adequada e eficiente algumas aulas teóricas sem a complementação da aula práticas e aula de campo. A possibilidade de ministrar a parte teórica e complementá-la com aulas práticas presenciais, semanas ou meses depois, ao final do isolamento, somente será possível com a revisão total da parte teórica, o que na prática implica na necessidade que venham a ser ministradas novamente.


Por outro lado, os membros do Fórum entendem que as atividades remotas, diante da situação emergencial, possam ser uma forma de manter o vínculo dos estudantes com as Geociências e, através desse contato, auxiliá-los num período tão difícil, e no sentido de tranquilizá-los diante das incertezas de sua formação profissional, atendendo também a necessidades psicológicas de se sentirem acolhidos pela universidade.


O Fórum de Coordenadores de Curso de Geologia entende que as atividades remotas devam ser realizadas no sentido de estimular e mantê-los motivados para se aprofundar nos estudos das Geociências, mesmo que apenas teoricamente, no momento.


Outra questão importante a ser avaliada são as condições psicológicas e ambiente de estudo dos estudantes. A experiência que se tem tido nos cursos com atividades remotas é que o aproveitamento do estudante é muito baixo, conforme levantamento apontado pelos estudantes da USP, que demonstram aumento do grau de insatisfação crescente.


A situação na qual muitos se encontram em suas residências, a falta de um local apropriado e isolado para acompanhar as atividades, a internet que interrompe ou que não permite boa conexão agravam a situação.
O maior objetivo do Ensino é o atendimento aos estudantes. Não podemos considerar uma atividade eficiente se o aproveitamento é muito baixo. A atenção ao estudante, ainda mais nessa fase emergencial, é de fundamental importância. Formas de acolhimento e atendimento psicológico devem ser implementadas, antes mesmo do início das futuras atividades remotas.


Outra questão angustiante para o estudante, que pode ser evitada, é sua preocupação se prossegue ou não com a disciplina remota, ou se deixa para fazê-la de forma presencial no futuro.
Para se evitar mais essa angústia, recomenda-se que seja permitida a interrupção, por interesse do estudante, a qualquer momento e em qualquer situação, com exclusão da disciplina de seu histórico escolar (sem qualquer indicação de trancamento ou algo parecido).


Outra recomendação é abertura de canais de diálogos constante entre os docentes das atividades remotas e estudante, que permitam aferir o grau de aproveitamento e intensidade das exigências, com definição de prazos adequados, sem sobrecarregar o estudante, num período tão difícil.


Deve-se se dar atenção para o retorno aos estudantes dos exercícios solicitados, com orientação adequada e retorno de correção, para que os alunos de fato tenham o aprendizado adequado.


Formas devem ser implementadas para se evitar desbalanço de exigência entre as disciplina de um mesmo ano, a fim de que o estudante não se dedique mais em algumas, mais exigentes, e deixe outras de lado.
As atividades remotas opcionais, que já vêm sendo desenvolvidas e propostas em alguns cursos, devem ser oferecidas de forma igualitária, para todos estudantes, e não apenas para os que têm acesso adequado à internet, a fim de se evitar mais uma angústia para os que não puderem acompanhar e à fim de não estimular a desigualdade.


As atividades remotas devem respeitar as individualidades de cada estudante e também dos docentes, uma vez que se tem constatado dificuldade de alguns em se adaptarem às atividades remotas.


Por fim, ressalta-se que, diante do quadro de emergência, as atividades remotas não irão substituir a situação ideal necessária para um curso de geologia – com aulas práticas com amostras e equipamentos e aulas de campo – e que devem ser conduzidas, em caráter excepcional apenas, como uma forma de manter o contato do estudante com as Geociências e com os docentes e seus colegas. Deve ser algo que seja bom para eles e não um problema a mais.


Os estudantes devem ter a confiança e certeza de que a instituição e seus docentes estão e estarão desenvolvendo essas atividades remotas para o bem deles.

Situação dos Cursos de Geologia durante o isolamento resultante da Pandemia Covid-19
Fórum dos Coordenadores de Curso de Geologia
08/06/2020

Em reunião virtual do Fórum de Coordenadores de Curso de Geologia, no dia 05/06/2020, com a participação de 52 pessoas, entre coordenadores, docentes e discentes, foi possível traçar um panorama de como estão sendo realizadas as atividades remotas de seis cursos de Geologia, entre os 36 cursos no Brasil, e a situação dos demais, que estão se organizando para iniciar suas atividades remotas, frente ao quadro de prolongamento do isolamento.


Os seis cursos que mantiveram atividades remotas foram os da UNISINOS, IFES, UniBH, UFRGS, UNICAMP e USP.

A UERJ não manteve atividades à distância relacionadas às disciplinas obrigatórias, mas procuram manter apresentação de palestras e algumas atividades relacionadas a optativas. Foi oferecida uma atividade à distância que denominaram Cálculo Zero, diante da dificuldade geral que os estudantes de Geologia têm com essa disciplina, mas nada obrigatório.


No geral, os demais 30 cursos de Geologia no Brasil, não desenvolveram atividades durante o isolamento, iniciado em meados de março de 2020.


Na UNISINOS estão chamando as atividades de “aula presencial remota”. A universidade, já no início do isolamento, promoveu um mapeamento da situação dos alunos e docentes e iniciou com um treinamento dos docentes de 40 dias, com atividades pela manhã e tarde para prepará-los para as aulas à distância. Adquiriu e disponibilizou o Office 365, para uso da plataforma teams para as atividades. Para alunos que têm que finalizar trabalhos de conclusão de curso, têm acesso individual a laboratórios, que são depois higienizados e isolados por 24h. Os docentes têm produzido imagens 3D de amostras de rochas, minerais e fósseis e de afloramentos, para uso em suas aulas.


Na UFAM propostas de aproveitamento de atividades AEE (, aproveitamento total ou parcial das disciplinas obrigatórias do cursos, porém não aprovado. Aproveitamento apenas de atividades complementares.


Na UFRGS estão usando a sigla EER (Ensino Emergencial Remoto) e não EAD por entenderem que não é possível oferecer um curso de Geologia à distância, portanto, consideram apenas como atividades remotas, frente à situação emergencial. Nesta universidade, foram criados dois planos para todos os cursos – um para os que vão se formar e outro para os demais. Para o segundo caso, há uma consulta prévia aos matriculados em determinada disciplina sobre a possibilidade de EER. Se tiver um estudante impossibilitado de acompanhar, a disciplina não será oferecida. No caso específico do curso de Geologia, não há nenhuma disciplina com EER, portanto, neste curso, a continuação é parcial.


Na UNICAMP, que iniciou o isolamento antes das demais universidades, foi realizado consulta prévia sobre acesso à internet e disponibilidade de computador. Estão sendo ministrados estudos dirigidos, mas o representante discente relatou dificuldades em acompanhar os mesmos e da falta de um padrão, com diferenças nas atividades, principalmente em disciplinas de unidades diferentes. Por questão orçamentária, uma vez que na UNICAMP as aulas de campo são realizadas com ônibus fretados, foram suspensas todas em 2020. A previsão é a de realização das aulas de campo e aulas práticas apenas no início de 2021, através de disciplinas que serão especialmente criadas para esse objetivo.


O curso de Geologia da IFES (Espírito Santo) teve início em 2018. Estão usando a plataforma Moodle. Havia o comprometimento da Universidade de só iniciar as atividades remotas após a garantia de acesso de todos estudantes à internet, o que não foi respeitado. Levantamentos apontavam que 50% dos estudantes apenas tinha acesso adequado. Somente agora abriram um edital, para disponibilizar o valor mensal de R$ 100,00 por um ano e empréstimo de computador.


Com relação ao curso de Geologia da USP, a situação relatada foi que os estudantes, diante da situação na qual alguns não tinham computador e ou acesso à internet, ameaçaram com uma paralização, diante do que foram disponibilizados empréstimos de dezessete computadores do instituto e, depois, a reitoria da USP distribuiu modens de 20 Gb. Levantamentos semanais vêm sendo feitos pelo centro acadêmico, que demonstram o aumento significativo do grau de insatisfação com as aulas remotas. Tem se buscado o diálogo constante entre os docentes e alunos, porém, mesmo que com repetitivas solicitações, atendidas pela maioria dos docentes, há ainda os que ministram aulas longas ao vivo de 4 horas, e exigem ainda muitos exercícios com prazos não adequados. Outra questão levantada é que determinadas disciplinas apresentam grau de exigência maior do que outras, o que faz com os estudantes deixem de se dedicar às demais. No início do isolamento, tinha-se ainda a impressão de que seriam apenas algumas semanas de atividades à distância, motivo pelo qual, algumas disciplinas (cinco entre as 23 do curso) optaram por esperar o retorno às aulas presenciais. Diante do quadro de prolongamento, resolveram iniciar suas atividades, o que vem causando um certo descompasso na ministração das demais disciplinas, que iniciaram em meados de março. As disciplinas no curso foram categorizadas em três classes, a fim de se planejar a sua finalização. Disciplinas A – com conteúdo teórico que, a princípio, poderiam ser ministradas à distância, Disciplinas B – com parte teórica complementada com aula prática e ou aula de campo e Disciplinas C – aquelas que dependem exclusivamente de aulas de campo, como as de mapeamento. Existe a tendência de finalizar as disciplinas classificadas com o A, e de não fechar as disciplinas B, que teriam sua finalização no início de 2021, após revisão da parte teórica. Levantamentos feitos junto aos estudantes demonstram que se encontram em complicada e preocupante situação emocional, o que dificulta a concentração e acompanhamento das atividades, além de situações pessoais, como a de não terem local apropriado de estudo e preocupação com os familiares, além da tensa situação de isolamento e preocupação com a pandemia. Por iniciativas dos estudantes, estão organizando grupos de apoio e buscando orientação profissional (psicólogos) para dar suporte aos mesmos.


Na UFRN, foi realizado levantamento prévio das condições dos estudantes, tanto de acesso à internet como do ambiente em que se encontra durante o isolamento, como presença de crianças e pessoas em situação de risco, frente à pandemia. Nesta universidade foi criado um semestre suplementar, com seis semanas, e que irá de 15 de junho a 29 de julho, não obrigatório, mas que conforme a situação, poderia ser usado pelo estudante que participou para eliminar algumas disciplinas obrigatórias. O impacto negativo apontado para essa iniciativa é o fato de que, diante a possibilidade de apenas uma pequena parcela dos estudantes poderem participar, isso venha causar mais ansiedade e angústia aos que forem excluídos das atividades.


Demais cursos, como da UFU, UFBa estão em discussão sobre o início das atividades, na espera de uma posição da ANDIFES, mas já afirmam que só pretendem iniciar após garantido o total acesso, por parte dos estudantes, à internet e computador. Situações mais preocupantes se encontram em universidades como a UNIFESSPA, com campi distribuídos no sul e sudeste do Pará, com 30% dos estudantes sem acesso a internet em casa (Perfil socioeconômico Unifesspa). Dados atualizados serão divulgados após pesquisa que está sendo realizada pela instituição e que será divulgada na segunda quinzena de junho.


Na Universidade Federal de Pelotas, estão pensando em abrir um calendário complementar, só com disciplinas optativas, com o objetivo de manter o vínculo com os estudantes. Para isso a Universidade colocou a disposição um valor de R$ 20,00 mensais, para internet, valor esse questionado pelos alunos que pedem seu aumento. Na UFPR, levantamento realizado pelos estudantes demonstrou que 20% têm dificuldades de acesso à internet. Na UERJ também 60% dos alunos sem acesso a internet ou com acesso ruim.


Na UNIBH estudantes relatam que poderão se formar sem o campo, descumprindo as diretrizes curriculares.


Nas discussões e falas, foi destacada as dificuldades de se manter atividades à distância num curso de Geologia, que depende de complementação das aulas teóricas com aulas práticas e aulas de campo, o que explica e justifica o baixo número relativo de cursos que mantiveram ensino remoto – seis cursos apenas, entre 36 cursos no Brasil.
As dificuldades relatadas foram muito parecidas em todas as Universidades.


Att.
Profa. Dra. Joana Paula Sánchez
Presidente do Fórum
Universidade Federal de Goiás