Contato

Nota de falecimento


A Geologia perdeu um amigo

Olavo Soares, geógrafo, professor de Geografia física na UFPR, autor de alguns livros em geologia e historia, faleceu neste ano que passou.  Não era meu parente, mas um grande amigo. Trabalhou como técnico na Petrobrás, creio que desde sua fundação em 1954, no Distrito de Exploração Sul, com sede em Ponta Grossa; tudo sabia e a todos conheceu, sobre a história da exploração na bacia. Era contemporâneo de Lange, Franklin Gomes e Walter Linck. Colaborou, como sempre, de forma entusiástica,  na minha equipe de Geologia – a TG20, em mapeamento tendo liderado a formação da base planimétrica 1:50.000, com mosaico controlado de aerofotos de toda a bacia do Paraná (1967-69) – mapas até hoje utilizados nas sucessivas compilações.

À noite era professor de Geologia no curso de Geografia de Ponta Grossa. Tão grande era sua vibração com o conhecimento geográfico e geológico, que “A sua aula ninguém perdia! E ninguém saia da sala antes!”, escreveu seu ex-aluno, professor Adilar Cigolini. Flávio Feijó  e eu, geólogos da Petrobrás, fomos  testemunhas. Pois o Olavo levou-nos a cursar Geografia, uma área de conhecimento vizinha da Geologia, na qual também eu era apaixonado, naquela fase efervescente da nova Geografia, a Geografia ativa, e da nova geologia global. Era o nascimento da Tectônica de Placas, porem ainda não se falava nisto nas escolas de Geologia: Olavo, com seu colega Eugenio Malanski, já apresentavam a teoria em aula e perguntavam a nós geólogos-alunos: “Vocês não acreditam?”

Gostava de conversar, fazer novos amigos e, nesta sociedade da informação, reclamava do novo hábito dos pesquisadores e professores só quererem conversar com os seus computadores.  Gostava de reuniões científicas, para ouvir, conhecer, conversar e presentear. Como presente teve também um filho geólogo, o colega Carlos, professor na UFPR.

Em 1970, mapeando em são Paulo, descobri um banco com centenas de “cupins” de sílex exposto na formação Teresina, que interpretei como estromatólitos silicificados do Permiano (CBG 1972). Levei o Olavo lá e ele ficou espantado, maravilhado.  Trinta anos depois publicamos na Nature (co-autor) um pequeno trabalho registrando a descoberta e uma possível interpretação alternativa de sílica mounds vulcânicos. A publicação rendeu notícia de jornal em São Paulo. No domingo cedo, Olavo aparece de surpresa em minha casa, mostrando o jornal com o escrito a tinta no título “Não acredito”. Assim era Olavo, atento às novidades geológicas.

No congresso do Gondwana, na África do Sul, comemoramos seu septuagésimo aniversário, como queria ele, com champanhe no alto da Table Mountain, altiva e significativa, por representar por muitos anos o debate sobre Ordoviciano-Siluriano-Devoniano na sua contraparte na bacia do Paraná. O famoso J. D. Collison e sua esposa  estavam no Congresso e anteriormente eu já havia mantido correspondência com ele, combinando um encontro lá. Olavo Soares muito mais comunicativo logo passou a conversar e discutir com Collison, durante a longa excursão de campo pela bacia do Karroo. Apenas no final do Congresso, quando nos despedimos, Collison ficou sabendo que era eu o Soares com quem  se encontraria lá.

Olavo gostava também de ir às reuniões anuais da AGEPAR, quando tinha churrasco! Liderou a organização do Simpósio Internacional do Siluriano-Ordoviciano em Ponta Grossa. Apreciador de fósseis, organizou um museu, que leva seu nome em um aprazivel hotel fazenda e reserva ecológica em Tibagi, a norte do canion de Quartelá.

Viveu a Geologia, a Geografia, a História.

Gostaria que pudesse continuar campeando novidades num mundo muito maior que nosso pequeno planeta...

Paulo César Soares